sexta-feira, 11 de julho de 2014

Imbróglio - Descortinando Luis de Góngora (poeta)





Apenas mais um simples sonetinho
Feito de uma maneira assimétrica
Desrespeitando os senhores da métrica
Não muito, mas apenas um pouquinho

Feito com a mesma doçura e carinho
Passando longe da mais pura estética
Sem nenhuma bela forma geométrica
Mas rimando assim, aquele tantinho

Fiz um sonetinho quase gongórico¹
contado nos dedos e de cabeça
aparentemente, um grande imbróglio

De quem não entende nada de letras
nem de dório, nem jônio, só simplórios
sem diplomas, mas com folha e caneta

Joakim Antonio

1. Gongórico: 
Que pertence ou se refere a Luis de Góngora y Argote (1561-1627, poeta espanhol). 

Que é apurado, rebuscado, requintado, trabalhado.





 



Ora que a competir com teu cabelo
ouro brunhido ao sol reluz em vão,
e com desprezo, no relvoso chão,
vê tua branca fronte o lírio belo;

ora que ao lábio teu, para colhê-lo,
se olha mais do que ao cravo temporão,
e ora que triunfa com desdém loução
teu colo de cristal, que luz com zelo;

colo, cabelo, fronte, lábio ardente
goza, enquanto o que foi na hora dourada
ouro, lírio, cristal, cravo luzente

não só em prata ou víola cortada
se torna, mas tu e isso juntamente
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.

Mientras por competir con tu cabello
GÓNGORA, Luis de Góngora.
Fábula de Polifemo e Galatéia e outros poemas.
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (organização e tradução).
São Paulo: Hedra, 2008.


Luis de Góngora y Argote (Córdova, 11 de julho de 1561 — Córdova, 23 de maio de 1627) foi um religioso, poeta e dramaturgo castelhano, um dos expoentes da literatura barroca do Siglo de Oro.



Obra

Góngora aparentemente não tinha grande apreço pela tipografia e pelas vantagens do livro impresso. Apesar de ter tido desde muito cedo admiradores da sua obra, apenas em 1623 empreendeu uma tentativa de publicação, a qual, apesar das cartas trocadas com o editor e do aparente empenho do autor, não logrou êxito. Daí que Góngora não tenha publicado em vida qualquer das suas obras, tendo a sua divulgação inicialmente seguido o padrão típico da época anterior à introdução da imprensa: elas passaram de mão em mão em cópias manuscritas que foram sendo coleccionadas e recopiadas em cancioneiros, romanceiros e antologias, alguns deles depois publicados com ou sem a permissão do autor.

Apesar de já nas suas obras iniciais encontrarmos o típico conceptismo do barroco, Góngora, cujo talento era o de um esteta com forte tendência para a autocrítica (costumava dizer: el mayor fiscal de mis obras soy yo), não se conformava com os cânones existentes. Assim, decidiu tentar, segundo as suas próprias palavras, "hacer algo no para muchos e intensificar ainda mais a retórica e a imitação da poesia latina clássica.". Para tal, introduziu numerosos cultismos e uma sintaxe baseada no hipérbato e na simetria.

Estava igualmente muito atento à sonoridade do verso, que cuidava como um autêntico músico da palavra. De Góngora pode-se dizer que era um grande pintor dos sons da linguagem com que enchia, com a perfeição de um Epicuro, os seus versos de matizes sensoriais de cor, som e tacto.

Para além desse exacerbado culto estético, num processo a que Dámaso Alonso, um dos seus principais estudiosos, chamou elusões e alusões, convertia cada um dos seus poemas, com particular destaque para os da sua fase mais tardia, num obscuro exercício para mentes despertas e eruditas, como uma espécie de adivinha ou desafio intelectual destinado a causar prazer na sua decifração.

Estes eram os traços mais marcantes da estética barroca de Góngora, a que depois em sua honra se chamou gongorismo . Deste Gongorismo nasceu o hoje depreciativo epíteto de gongórico por vezes aplicado à linguagem prolixa e convoluta. Outra designação dada ao estilo cultivado por Góngora foi a de culteranismo, inicialmente considerada pejorativa por analogia com a palavra luteranismo, já que os adversários de Góngora, que cunharam o termo, consideravam os poetas culteranos como os hereges da poesia.

A crítica, desde Marcelino Menéndez Pelayo, tem distinguido tradicionalmente duas épocas, ou dois estilos ou maneirismos, na obra de Góngora: o príncipe da luz, que corresponderia à sua primeira etapa como poeta, quando compôs romances e poemetos unanimemente louvados desde época Neoclássica; e o príncipe das trevas, quando a partir de 1610 compõe a ode A la toma de Larache e passa a produzir poemas obscuros e ininteligíveis. Até à época romântica esta parte final da sua obra foi duramente criticada e incluso censurada.

Esta teoria do dualismo na obra de Góngora foi rebatida por Dámaso Alonso, que demonstrou que as características de complexidade e obscuridade já estavam presentes na primeira fase da obra, as quais, fruto de uma natural evolução, apenas chegaram aos ousados extremos que tanto lhe foram criticados na sua fase mais tardia. Em romances como a Fábula de Píramo y Tisbe e em alguns poemas da fase inicial já se encontram jogos de palavras, alusões, conceitos e uma sintaxe latinizante, se bem que mascaradas pela brevidade dos versos, pela sua musicalidade e ritmo, e pelo uso de formas e temas tradicionais.



Para saber mais:







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