domingo, 11 de setembro de 2016

Dia de lição



Tomou novos caminhos e viveu usando um quase nome. Disse amém e rezou o grande livro. Fez todos os sacramento possíveis, mas nunca se adaptou. Sempre achou aquele deus esquisito, cheio de ciúmes e mágoas, vinganças e inconstâncias, muito parecido com o povo que o criou. Por onde ia era sempre bem quisto, ganhando elogios, mas faltava algo que não sabia expressar. Sentia que de longe o observavam, esperando algo mais.

Num certo dia, pegou sua jaqueta preferida e saiu sem destino, buscando palavras, que há tempos não ouvia mais. Buscou uma linha mestra e a seguiu, entrou na água fresca e depois passou pelo deserto, foi apontado pelos fiscais do politicamente correto e então, sem saber como, caiu numa cidade cinza. Andou pelas ruas escutando cânticos embebidos em álcool, ouvindo vários vazios, disfarçados de, Eu te amo e vestiu todas as peles que cada local pedia. Mas nada adiantou.

Voltou pra casa e encontrou um amigo no caminho, achou engraçado que era sempre o mesmo que aparecia nesses momentos. Seu amigo o olhou e brincou, sobre estar sempre de roupas pretas quando se viam, perguntando se isso era mania de poeta e saiu correndo rindo alto. Ele também riu, mas achou estranho a pergunta, olhou em volta e notou que havia parado no meio do campão de futebol. Um refúgio de barro no meio da cidade. Abaixou e começou a riscar algo no chão.

Observou o desenho feito de palavras, analisou o escrito, contou as sílabas, observou as frases, reviu as últimas palavras em cada uma e sorriu. Era isso! Não podia ter parado de escrever daquele jeito, aliás, de nenhum jeito. Se não havia papel, usasse as ruas, do mesmo modo, se não havia leitores, procurasse ouvidos sedentos, ao vivo. O que importava era poder deixar tudo fluir.

Ficou de pé e viu a revoada de pássaros chegando, ouviu seu canto e pensou como a natureza é pura poesia. Também, sem olhar pra trás, não notou o amigo ao longe, junto de outros, observando tudo. Um deles, mais velho, disse que olhando dali, os pássaros pareciam uma digital e outro, mais novo, perguntou se já podiam ir embora. Ao passo que o amigo antigo respondeu:

- Eu acho que devemos aproveitar mais o momento, pois não é sempre que podemos ver pássaros, em revoada, ensinando ao mais novo como voar.

Joakim Antonio



Imagem: Flight by Felicia Simion Photography
© COPYRIGHT 2007-2016

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